quarta-feira, 16 de novembro de 2011

Aspirina em Ré Maior


Em dia de Jornadas do Internato Médico, aquele dia onde os “meninos doutores” estão a dar os primeiros passos para o upgrade de “senhores doutores”, a maioria dos doentes internados teve o privilégio de tomar aspirina em Ré Maior. E em Fá. E em Allegro, Andante, Presto… Pianíssimo…. Shiu!

Uma Polka Pizzicato de Strauss acompanhou, na Neurologia, a toma de Coversyl para dominar os ímpetos de uma tensão que teima em subir sempre, enquanto o “Por una Cabeza” de Carlos Gardel, tango, está bom de ver, se definiu como melodia propícia aos labores da equipa de Psiquiatria. Para sossegar o músculo maior que nos corrige os afectos e lhes trouxe enfartes e  deu cabo das coronárias, os doentes de Cardiologia foram prescritos com o tema de John Williams que deu som ao filme Lista de Shindler. Já os doentes de Urologia levaram com o “Divertimento para Quarteto de Cordas em Fá Maior”, de Mozart, para compensar algumas aflições propícias a menor diversão.

Hoje, o Fernando Fonseca deu música aos doentes. Literalmente. Não daquela em sentido figurado e da qual nos queremos ver arredados. Dessa, é crível que os doentes e não doentes ouçam no dia a dia da lufa lufa casa-trabalho, trabalho-casa. Música de sanfona que atazana os ouvidos e desatina a cabeça e que hoje se ouve constantemente travestida de Syrtaki, Hassápiko ou Zebékiko (tudo músicas tradicionais da Grécia), em acordes de Buzuki - que é o instrumento tradicional dos meninos de Atenas.

 Não!

 Foi música mesmo, tocada por músicos de carne e osso habituados aos palcos do D. Maria ou do S. Carlos, que se passeiam pela Orquestra Metropolitana de Lisboa depois de terem rasgado os primeiros sons de violino na Arménia, na Covilhã, em Cascais ou na Roménia. Liviu Scripcaru, 1º violino é romeno; Marcos Lázaro, 2º violino, é cascalense, Jean Aroutiounian, viola de arco, é arménio (também, com um nome destes!) e Nelson Ferreira veio das faldas da Serra da Estrela. É covilhanense.

Os quatro formam (por serem quatro) um quarteto de cordas. Dispuseram-se a despir o fato de gala que trajam em noites de “bravo” nas frisas engalanadas dos teatros onde eu não vou e os doentes também não. Em vez e esperarem por eles no local de trabalho, calçaram as tamanquinhas e vieram animar corredores, enfermarias e auditório do hospital. Não deixa de ser caricato mas, sinal dos tempos, os quatro músicos profissionais vieram até nós pró bono no dia em que o Teatro Nacional Dona Maria II anunciou a suspensão de toda a programação de 2012 em consequência da austeridade anunciada pelo Governo.

Por nós, podem continuar a dar-nos música…


Para os que não foram ao hospital nem estavam no hospital, enlevem o espírito…





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