sábado, 26 de novembro de 2011

Colite divertida? Uma ova!

Depois de anos a fio a comer fumo da soldadura sem que isso lhe desse a volta às entranhas, agora que estava em casa há tempo demais - a gozar a reforma de uma velha Sorefame que dava cor às linhas da CP -, é que os intestinos lhe pregavam dores de cabeça.  E de barriga – está bom de ver. As cólicas eram de tal forma que aquilo só sossegou quando entrou pela porta da urgência do hospital. Já tinha ficha e processo por força de desatinos da tensão arterial mas, agora, a dor vinha de baixo e atravessava-o de lado a lado fazendo-o dobrar os joelhos e segurar a barriga como se os afagos do baixo ventre lhe aliviassem a dor.
Uma diverticulite, foi o que lhe arranjaram no balcão da urgência. Motivo mais do que suficiente para o internamento e uma guia de marcha quase passada para acesso ao bloco operatório. Quando a família se lhe chegou para a primeira visita não soube explicar bem o que se passava. Era uma trampa qualquer que lhe dava uma dor assim como quem sente uma faca a espetar-se-lhe barriga adentro. Ainda que não soubesse o que era uma faca a espetar-se-lhe onde quer que fosse. Uma dor que “ai, ai que dói que se farta!…”


A referência à cirurgia não foi uma grande surpresa. Já tinha ouvido falar que essa era a solução para a diverticulite ou colite divertida ou lá o que raio era que dava dores como o caraças. A surpresa veio depois quando lhe disseram que a operação teria de justificar aquela coisa estranha de andar com um saco em permanência ligado aos intestinos. Isso acabava com a vida social. Isso acabava com a vida. A pensar no amanhã, estimava não ter amanhã. Estava bom de ver que não ia sair mais de casa. Onde já se viu? Sair de casa e dar-lhe uma volta aos intestinos e encher o saco. Ali ao pé dos outros, na rua. Os tempos acabam quando os crescidos retornam às parvoíces dos putos. E o acto de poder borrar-se todo era parvoíce de puto.
Foi nesta canseira, a guerrear com os intestinos antes que eles dessem em guerrear sozinhos e fizessem asneira, que recolheu à enfermaria. O pior – o melhor para ele – viria no dia seguinte pela boca da médica assistente. Os padrões da sua tensão arterial, demasiado altos, não permitiam a operação; uma infecção oportunista nos pulmões também não aconselhavam ao corte. Enfim… ou a colite assumia a condição de divertida e curava-se à força de medicamentos, ou a coisa tenderia a piorar e a dar para o torto.
Curou-se. Antibióticos, comprimidos amarelos, azuis, de duas cores, de forma achada ou comprida, revestidos ou simples a saber mal, xarope com sabor a mel e a flores, animou-lhe os divertículos e curou-lhe a infecção. Essa. No hospital há duas semanas vieram atrás daquela, da que a tinha levado ali, outras infecções. Foi nos pulmões, na bexiga, foi gripe e pneumonia, foi uma colecção de maleitas que não lhe deu tréguas enquanto esteve internado. Sentia-se inchado, mais gordo do que o que era e estava naquela fase em que não sabia se tinha sido melhor ir à operação e ficar-se ou ficar-se sem operação.
Nem uma coisa nem outra. A esperteza dos antibióticos conseguiu superar a manha das infecções. Estava a ficar bom. Estava?
“Estou todo borrado! Estou todo borrado!” – tocou a campainha vezes sem conta. Os intestinos, os que o tinham levado ali, teimavam em torná-lo bobo. Sentia-se acabado. Lembrava-se…
Os tempos acabam quando os crescidos retornam às parvoíces dos putos.
E o acto de borrar-se todo era parvoíce de puto.

2 comentários:

Valdemar disse...

tens jeito para isto.....

Lola disse...

Pois é divertida :)))

Beijinhos